sábado, 29 de março de 2014

Ele e Ela tinham por hábito sair para um café. A conversa fluía e terminado o café ficavam para um copo enquanto discutiam o estado do país (haverá tema mais apaixonante?!), a nova música que ele produziu ou a última viagem dela à terra dos avós. E passavam horas, minutos e segundos que caso eles fossem inquiridos afirmariam, com convicção, não ter passado. Mas o relógio não mente e a dada altura exibia o princípio do amanhecer. Ele vestia o casaco, Ela dirigia-se ao balcão para pagar e saíam. Caminhavam lado a lado enquanto o passeio permitia e Ela à frente quando tal não era possível. Sorriam.
Param naquela esquina em que deveriam seguir direcções opostas. Ele pergunta-lhe:
- Partilhamos um cigarro?
Ela raramente fuma, mas acede. E enquanto passam o cigarro de mão em mão, cria-se um tempo.
- És tão bonita! – murmura Ele. Acrescentando,
- Por fora e nesse teu dentro…
- Fala o homem com a namorada mais invejada no nosso grupo de amigos! – murmura Ela, sorrindo.
- A qual não trocaria por mais fascínio que exerças sobre mim. – afirma Ele.
- Explica lá isso? – questiona Ela com o à-vontade dos muito próximos.
- Acho que gostaria demasiado de ti, numa medida que seria difícil corresponderes. Gostarias sempre menos um pouco do que eu de ti… acho!
O cigarro acabou e despediram-se com aquele beijo de todas as noites. E, já de costas voltadas, Ela sorriu e Ele*.

*Nas relações há sempre alguém que ama e alguém que é amado. Nunca na mesma medida. Quando somos amados o “poder” é nosso. Alguém atira o seu mundo ao ar por nós. Quando amamos o “poder” não é nosso. Atiramos o nosso mundo ao ar por alguém. Vale a pena amar desta última forma? Vale. É correr o risco de vir a amar na mesma medida. Na medida inteira! Afinal “o amor é uma doença,/Quando nele julgamos ver a nossa cura!”

Sem comentários: