segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Amanhã o sol não surgirá no horizonte
A noite perdurará
A ilusão morrerá de frio

Primeiro sentirá as extremidades a arrefecer
Procurará o fogo
Sem o encontrar
Todo o corpo de ilusão entrará em hipotermia

A noite não será mais bela
[Nem uma vaca preta]

As estrelas por mais que brilhem
Não apagarão a solidão de nos sabermos sós

A memória há-de trair-nos
Em cada instante sem sol
Sabendo-o já uma quimera

A ilusão, essa, como disse,
Morrerá de frio

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Portugal,
Porque sepultas os sonhos do povo?

Do povo que estuda, trabalha, contribui,
Do povo que na ruína,
Insiste e persiste, na loucura

De não te abandonar

sexta-feira, 9 de novembro de 2012


Morrem-me sonhos
Devagarinho

Após dias, meses e anos
Comigo

Como é possível

Não me darem tempo
De lhes verificar o pulso e a respiração
Chamar o INEM
Colocar um plano duro
Iniciar-lhes suporte

Como é possível?!
Nem lhes conseguir colocar um acesso venoso

Como é possível?!
Sobreviver à eutanásia dos sonhos

sábado, 3 de novembro de 2012


Abro a porta de casa
Adivinho presentes as pessoas que amo
Não as procuro
Sei-as lá

Gostava de dizer
Que lhes senti a ausência
Que continuam a ser-me essenciais
Como tudo que amo

Não o faço
Ainda não tenho a chave da cela em que me prendo

Digo palavras de circunstância
Faço gestos de circunstância
Sou, concerteza, resultado de circunstâncias

Vou para o meu único quarto dos muitos em que vivo
Incapazes de me pertencer por ausência de passado

Pesa-me a Alma de sono
Resiste a Alma ao sono pela gana de revisitar as memórias

Revisitar a memória impele-me a escrever
Uma espécie de bálsamo para quem deseja memórias brilhantes

E, leio textos de outrora
Vejo imagens de outrora
Quase que adivinho sons de outrora

Raiva de ver tudo tão presente e tudo ser somente passado
Raiva dos sentidos que me traem
Raiva da consciência que não se deixa trair

Raiva de Ti,
Deus

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Será que ainda vamos a tempo
De viver o futuro

Esquecer os dias em que não trocamos palavras
As semanas em que não existiram abraços
Os meses em que nada soube de ti

Conseguirei estrangular a mágoa
A incerteza quanto ao teu amor

Durante quantos anos desejei ter a legitimidade de amar-te

Tens receitas para matar isso em mim
[Cianeto, cloreto de potássio ou apenas 4 gr de paracetamol,
O que recomendas?]

Terá sido “mea culpa”?