sábado, 3 de novembro de 2012


Abro a porta de casa
Adivinho presentes as pessoas que amo
Não as procuro
Sei-as lá

Gostava de dizer
Que lhes senti a ausência
Que continuam a ser-me essenciais
Como tudo que amo

Não o faço
Ainda não tenho a chave da cela em que me prendo

Digo palavras de circunstância
Faço gestos de circunstância
Sou, concerteza, resultado de circunstâncias

Vou para o meu único quarto dos muitos em que vivo
Incapazes de me pertencer por ausência de passado

Pesa-me a Alma de sono
Resiste a Alma ao sono pela gana de revisitar as memórias

Revisitar a memória impele-me a escrever
Uma espécie de bálsamo para quem deseja memórias brilhantes

E, leio textos de outrora
Vejo imagens de outrora
Quase que adivinho sons de outrora

Raiva de ver tudo tão presente e tudo ser somente passado
Raiva dos sentidos que me traem
Raiva da consciência que não se deixa trair

Raiva de Ti,
Deus

Sem comentários: