Pergunto-me
O que conhecerei da minha origem
O que poderei descobrir
O que disso será verdade
[Duvidarei sempre da verdade!]

Amanhã
Quero continuar a pertencer a essa rua
Como se ela fosse um prolongamento do meu sentir
Imagino-me a ser
As casas que a contornam
As galerias de arte
As exposições
Os artistas
As pessoas que caminham
O chão que suporta
As roupas
Os pensamentos
O CCB
As lojas, objectos, cores
A mesa em que lanchavam os vendedores
As conversas que os entretinham
A partilha
Amanhã
Quero continuar a pertencer a essa rua
Saber-me diferente
E, sobretudo, igual!
Compreendes o milagre
De cuidar de um quilo e pouco de Pessoa
Sentir-me Deus e Ser Humano ao mesmo tempo
Ser Enfermeira?
Faz frio dentro de mim
Talvez caiam folhas
E chova de vez em quando
Vou comprar mais agasalhos
1 guarda-chuva
Escapar deste Inverno que teima abarcar-me
Talvez consiga aí construir uma Primavera!
Há questões que matam tudo o que somos
Transformam-nos em pó
E, por vezes, em nada
Crescerá aí o lamento?
NÃO! Reunir-se-á a força necessária
Para abrir o futuro
[Será que vejo tão longe quanto os outros?]
Dá-me
1 momento de insónia
Uma janela aberta para a noite
1 pedaço de céu
Uma neblina ao longe
E cada vez mais perto
Dá-me
Uma cidade a meus pés
Pessoas a caminhar na rua às 2:59h
Uma música conhecida a passar na rádio
Memórias do que consegui ser
Do que quero ser
1968 Apolo rumo à lua
E, talvez, eu já só consiga dormir quando não for noite!
É cedo, de tão noite
Coimbra não dorme
Os meus vizinhos não dormem
Eu não durmo
Não sofremos por insónias
Nem por um qualquer amor
Não permanecemos acordados por obrigação
Nem por um qualquer delírio
Não fechamos os olhos por cansaço
Nem por nos sentirmos mortos
É cedo, de tão noite
E estamos vigilantes por esse orgasmo que é criar!